Na era da métrica, ainda vale a ideia que não se mede.
Há algo rítmico em algoritmo que parece não encontrar os compassos corretos nesta dança.
Quantos likes vocês teve? Sua publicação atingiu quantas pessoas? Você está usando a métrica correta?
Para entrar na dança você precisa sempre tentar adivinhar o próximo passo. E isso, em nada tem a ver com estimular a criatividade de algo novo. É mais como uma pasteurização de ideias, onde algo é feito, espalhado, reproduzido à exaustão e torna-se obsoleto antes mesmo de virar um hit. Não dá tempo. Não chega ao topo das paradas.
A coreografia muda a cada momento. Dois para lá, dois para cá e pronto, uma nova música é tocada. Esqueça aquilo que você finalmente compreendeu como fazer e comece do zero. Ou melhor, comece de onde outro já começou. Pra ficar mais fácil, faça exatamente como o outro já fez. Rápido, antes que alguém troque a faixa.
Os algoritmos atualizam suas formas de verificarem, analisarem e decidirem quais indicadores serão mais importantes para que você seja visto. E pelo que será visto por você.
O artificial está te dizendo o que você gosta, irá gostar ou deveria gostar. Naturalmente, você terá que gostar.
Mais do que observar seus hábitos, costumes e gostos para indicar o que te agrada, ele agora está ditando os desenvolvimentos. Cria-se a partir dos dados. São eles que determinam se a música fará sucesso, se o filme deve ou não ser produzido, se o produto deve ou não ser lançado.
As nossas milionárias inteligências artificiais humanizadas sabem exatamente o que deve ser feito. Só que nesta dança ensaiada, robotizada e mecânica, tirou-se o principal ponto que a tornava tão atrativa: a criatividade do erro.
Aquele pisão no pé e o contratempo no compasso errado que acabava em risos e fazia entender melhor como fluía a dança já não servem mais. A matemática das harmonias perdeu a graça seus acidentes de sustenidos e bemóis em uma escala. Ela precisa ser limpa e palatável.
O espontâneo transformou-se em instantâneo.
Tudo tem que ser feito, dito, produzido e, principalmente, reproduzido. É preciso falar sobre tudo e ter razão sobre tudo. Quando muitas vezes, não ter nada para falar sobre algum assunto pode ser a nossa maior contribuição.
É que tudo é conteúdo. E todo conteúdo é medido, mensurado e milimetricamente calculado antes de ser produzido e publicado.
Eu que não sei dançar e arranho na guitarra, não tenho o menor pudor de assumir que, assim como na música, ao produzir o que for, atravessar a métrica e contrariar o metrônomo podem ser o seu grande diferencial.