De tanto ouvir que não tinha futuro, acreditou e passou a viver o presente. Hoje, pouco tempo depois, tem mais passado que muita gente.
Muito se engana quem conta a vida olhando para os dias, meses ou anos.
O calendário é mais uma das invenções humanas que servem para resolver problemas que não existiam antes delas. Afinal, no universo inteiro não se ouve um só tic-tac que não seja aqui, dentro desta imensa rocha esférica e azul.
E como toda invenção humana, não sabemos como usá-la direito.
Pequenos que somos, temos a mania de nos impressionar com a grandeza de tudo. Isto também se aplica à contagem do tempo. A magnitude dos milênios, o gigantismo dos séculos, a sabedoria das décadas.
Até quando reduzimos as unidades de medidas, como em dias, gostamos de evidenciá-los com um destaque especial: O dia D. O Dia do fico. O Dia do juízo final.
Em quantas vezes na vida é possível se ter a certeza de que a partir dali tudo mudará? E se já aconteceu?
Como capturar o instante exato em que o cérebro se apaixonou? Quando nasce realmente uma amizade? Quando o amor acabou?
Como identificar o anzol que fisgou a decisão no meio do cardume de pensamentos? Qual é o momento exato em que o clique acontece? Qual foi o real ponto de mudança?
É como pinçar o instante preciso em que você pega no sono.
Quando foi que se interessou por música? Em que momento percebeu que precisava de café todos os dias?
Há quanto tempo aquele é o seu lado da cama preferido? Ele sempre sorriu assim ou ficou mais bonito em algum momento?
E se ela não tivesse aberto o e-mail naquela manhã? Se ele tivesse ficado até mais tarde? Se não tivesse parado para amarrar o tênis? Se não tivesse aceitado o convite e perdido a hora do filme?
A grande mudança na sua vida pode já ter começado.
O evento que mudará seu futuro já é parte do passado. E, possivelmente, você nem perceberá isso no futuro, ao experienciar o seu presente.
O calendário é realmente uma invenção fantástica. Pena que não sabemos usar.
Ou talvez seja a nossa sorte.